Naquele dia eu entendi o que significa resiliência humana e como desenvolvê-la. Simplesmente porque não tive escolha. Ou eu corria naquele mato fechado descalço, sem saber muito bem no que ia pisar, ou ia ser deixado para trás.
Dessa vez eu não queria me perder do grupo, como na última caminhada.
“Eu e minhas caminhadas”. Pensei.
Cheguei a achar que estava preparado porque escolhi minha melhor meia para caminhar melhor, mas eu me enganei.
O dia estava ensolarado quando chegamos na entrada da trilha fechada. A unmidade da manhã, entrava pelo nariz dando aquela sensação pura de ar da mata.
Começamos a subir a trilha as 9:00 da manhã e chegamos as 12:30 em um lindo mirante, que dava para ver todo o vale sobre São Francisco Xavier, com as nuvens brancas fazendo sombra sobre as pequenas fazendas que víamos lá de cima e um céu azul claro profundo em cima delas, criando um cenário de filme.
Descanssamos 30 minutos e começamos a decida as 13:00 horas.
Dez minutos descendo e percebi o erro.
Minha meia que supostamente era a melhor, se demostrou uma lixa quente. Comecei a sentir a sola dos meus pés esquentar na subida, mas agora fritavam com a fricção da descida.
Parei na trilha e me sentei, vendo o grupo se afastar. Tirei o tênis e as meias e vi que já tinha formado algumas bolhas.
Coloquei o tênis sem meia e tentei dar alguns passos. Foi pior. O tênis sambava no meu pé, friccionando ainda mais e piorando a situação.
Sentei de novo, tirei o tênis e olhei em volta. Eu já estava completamente sozinho. As chances de se perder (de novo) eram grandes.
Então pensei: Qual escolha eu tenho? Preciso descer.
Quando conclui que precisava seguir descalço, por 2 horas de trilha fechada, pisando em sei lá o que, fiquei preocupado.
E se eu pisasse em uma aranha cabeluda? E se eu pisasse em algo pontudo? E se eu me machucasse, sem ninguém perto para ajudar?
Aí lembrei de uma frase que meu sócio na época falava muito: “Quando não tem escolha, escolhido está”.
Guardei o tênis e a meia na mochila, me levantei e comecei a dar os primeiros passos.
Guardei o tênis e a meia na mochila, me levantei e comecei a dar os primeiros passos, pisando em pilhas de folhas que faziam meu pé desaparecer.
Resolvi entregar nas mãos de Deus.
Esqueci do meu pé e coloquei toda a atenção no chão.
Comecei a andar mais rápido a cada pisada.
Alguns minutos depois eu estava correndo pela trilha, sem mais me importar. Quando ficava muito ingrime eu dava saltos como se estivesse calçando tenis de corrida.
Quando cheguei lá embaixo, a esposa do guia que calçava botas de trilha profissional, me olhou, deu uma risada nervosa e exclamou: “Você está descalço!!! “.
“É”. Respondi. Não tinha muito o que falar.
Cheguei no carro intacto. Sem nenhuma ferida no pé e grato pela experiência. No caminho de casa, comecei a lembrar da experiência e achei interessante como minha resiliência aumentou, conforme a minha aceitação aumentou.
Enquanto eu reclamava da meia, do guia que não esperava e do meu pé que doía, estava paralisado no lugar.
Quando resolvi aceitar a realidade e começar a andar, em pouco tempo fiquei mais resiliente.
O meu pé ficou forte e passei as próximas semanas andando descalço sempre que podia.
Naquela noite, deitei na cama e agradeci por ter aprendido que para criar resiliência é preciso:
- Aceitar a realidade;
- Encarar ela de frente;
- E decidir que você vai chegar do outro lado da adversidade.