Nascemos puros. Com o desabrochar do ego, por volta dos dois anos, essa voz interna começa a se manifestar. Ela nos acompanha incessantemente, sendo a origem de muitas aflições e pensamentos negativos da humanidade. Antes dessa voz surgir, existimos como pura consciência.
Vichara, a técnica milenar, nos guia de volta a essa consciência primordial, ao nosso verdadeiro eu. Ela nos ensina a transcender o ego, a transcender essas vozes internas que nos definem e limitam.
O primeiro passo no vichara é questionar: “Quem sou eu?”. O segredo está na forma de responder. Quando indagamos sobre nossa identidade, as respostas automáticas surgem: gostos, aversões, nome, profissão. No entanto, o vichara busca algo mais profundo, além do ego e de suas construções.
Não respondemos com palavras. Perguntamos “Quem sou eu?” e deixamos a questão ecoar, aberta e sem respostas imediatas. É um processo de contemplação, similar à admiração silenciosa de um pôr do sol. Sem julgamentos, sem tentar definir ou entender. Apenas observando.
Neste processo, a mente tentará preencher o vazio com palavras e pensamentos. A prática consiste em perguntar novamente, e novamente. Como ensinou Ramana Maharshi, é um exercício de repetição, milhares de vezes, até alcançar a clareza e a compreensão.
Ao persistir nesta jornada de autoquestionamento, começamos a discernir o “eu” real do falso “eu” do ego. Com o tempo e a prática, essa percepção se torna mais clara, e conseguimos manter o foco nessa consciência pura por períodos mais longos. A prática do vichara não apenas ilumina o caminho para o autoconhecimento, mas também nos conduz à paz interior e à verdadeira liberdade.